Abelha e Sanhaço II
Embaixo do chuchuzeiro, traçava planos grandiosos. Como desovar sobra hipotética, cobiçava mel improvável. Imaginava toda a ramagem coalhada de chuchu, me via também noutro lugar, coletando favos suculentos diante de abelhas inofensivas. Mas um lampejo de razão implodiu meu devaneio.
Cara, quanto ao chuchu, esta estrutura não aguentaria o peso, em relação ao mel, um exército de abelha venenosa não entregaria tanta doçura sem lutar até a morte!
Bem nessa hora, o sanhaço apareceu.
Azulado, lindo como ele só. Que bela ave! Pena que não tem ferrão, vive assustado o pobrezinho. Andasse armado de espinho igual a vespa, não fugiria de mim.
Pensando bem, sorte nossa. Já pensou qual seria o tamanho do ferrão? Abelha, confiando no traseiro, mergulha de cabeça dentro da flor, indiferente a outras presenças no ambiente, mas pode morrer quando ferroa. Sendo assim, melhor viver medroso como o sanhaço. Preferível fugir a perecer no primeiro uso de escudo descartável. É isso aí sanhaço, continue atento, carregando consigo a desconfiança como arma.
– Cante pra mim, prometo apreciar de longe.
Na intenção de atrair o passarinho pra perto de casa, e ainda focando o mel, fui atrás da abelha.
Será que flor sem cheiro dá mel doce? Ora, mel é mel, comerei de qualquer jeito. Mas pra isso, preciso distrair o abelheiro. Já sei, amanso com fumaça – ou tosto no fogo. De um jeito ou de outro, tiro elas do caminho.
Logo perdi a abelha de vista, mas teimoso continuei procurando a colmeia. Vasculhei o bosque inteiro, e nada. Bicho esperto, deve ter silenciado pra despistar o intruso.
Desiludido, lembrei do passarinho.
Que descuido! Ainda está lá cantando?
Fazia outra coisa.
No longo prazo prevalece o equilíbrio, a natureza se recria, perenizando o bioma. Mas mirando o microcosmo no instante, situação revoltante.
O bandido do sanhaço veio mal intencionado, determinado a destruir minha lavoura. Encheu o papo as custas do meu esforço. Bico afiado que nem navalha, peguei ceifando o último cacho. Aquilo despertou um acesso de raiva, aflorando o pior de mim.
– Fora daqui seu miserável, disfarçado sem vergonha! Saiba que nem canta tão bonito!
Leia também: Abelha e Sanhaço I
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1 comment on “Abelha e Sanhaço II”
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