Aprendendo Rápido
O jovem parecia um radar na proa do barco, atento olhando tudo. Comentei:
– Primeiro turista japonês que não fotografa tudo o que vê pela frente.
Quem viajava comigo também falou:
– Talvez seja coreano.
– Ou filipino.
Decidimos tirar aquela dúvida, e outra dúvida surgiu na sequência:
– O que leva a viajar sozinho Nakamura?
Não se mostrou muito entusiasmado a conversar. Respondia o perguntado numa boa, mas não esticava o assunto. Timidez ou natureza quieta?
Chegou no Brasil para cumprir agenda de estudante, frequentaria um breve curso sobre a América Latina. E onde tinha aprendido a falar português? No seu próprio país. Exigência da Escola, chegar sabendo alguma coisa.
– Gosta de peixe?
–
– E de pescar?
Jantamos junto naquela noite, peixe a vontade. Nakamura desejava saborear churrasco e feijoada, mas para surpresa dele, tais opções não constavam do cardápio. Não eram servidos em todo restaurante, qualquer dia da semana?
Acertamos a pescaria para a manhã seguinte.
Os pratos ainda sobre a mesa após a refeição, meu amigo embolsou uma das facas, Nakamura arregalou os olhos escandalizado. Engoliu ar ensaiando protestar, meu amigo agiu primeiro: não era o que parecia, não roubava o utensílio, tomava emprestado a ferramenta, necessária para a pescaria, que seria então devolvida da mesma forma, na surdina, após o uso. Por que não tinha simplesmente pedido ao garçom, Nakamura quis saber. O garçom não emprestaria, porque não era o dono do lugar. Ficasse tranquilo, o importante seria devolver direitinho:
– Se quiser, você será testemunha de que não houve intenção de furto.
Não pareceu convencido, senti nele um desconforto agudo pelo empréstimo sigiloso. Tentei mudar o assunto:
– Sabe jogar truco?
Ensinamos a parte teórica, o valor de cada carta, a hierarquia das manilhas móveis, e principalmente, as intrincadas malandragens de blefar sem ter nas mãos o que prestasse, o famoso facão. Assistiu atentamente uma partida, a próxima ele jogou. Já na primeira carteada, pediu três tentos. Não gritou nem provocou adversário, inclusive fez uma breve reverência inclinando a cabeça para a frente, ao pedir educadamente:
– Quero truco.
Ponderei:
– Gente aprendendo a jogar não tapeia, é melhor correr.
Minha companheira de dupla decidiu por nós dois. Convicta, declarou:
– Caia japonês, caia que eu quero ver.
Acossado, Nakamura se esquivou, embaralhando as cartas no baralho:
– Meu parceiro escondeu a faca, vou esconder o facão.
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Japoneses – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
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